
Poderíamos explicar a maldade do mundo através de vários olhares como o de Thomas Hobbes, em sua obra "O Leviatã" em que ele diz que “o homem é mau, não presta.” Ou em Maquiavel na sua obra “O Príncipe” em que ele diz que “o homem é mau por natureza, a menos que precise ser bom.” Ou ainda por Russeal, no “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens”, em que ele diz “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.” Mas quero levantar outra possibilidade para explicar a maldade das pessoas: o olhar que foi dado às mulheres ao longo dos anos. Primeiro é preciso enfatizar a importância de dois arquétipos que fundamentam nosso Self cultural, e que interferem diretamente em nossas vidas individuais. Os arquétipos matriarcal e patriarcal. Ainda que a interferência dos arquétipos nem sempre seja percebida, eles nos influenciam diretamente. Um exemplo disso foi no final do século XIX, época que tem início os estudos sobre a histeria. No hospital Salpêtrière, em Paris, Jean-Martin Charcot, médico e cientista francês que se destacou na psiquiatria e neurologia, se deparou com um fenômeno que costumava confundir os médicos, pois as manifestações clínicas da histeria eram muito variadas e ninguém sabia ao certo o que se passava com as mulheres. Freud tentou explicar: o nome “histeria” tem origem nos primórdios da medicina e resulta do preconceito, superado somente nos dias atuais, que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino. Na Idade Média, as neuroses desempenharam um papel significativo na história da civilização; surgiam sob a forma de epidemias, em consequência de contágio psíquico, e estavam na origem do que era fatual na história da possessão e da feitiçaria. Alguns documentos daquela época provam que sua sintomatologia não sofreu modificação até os dias atuais. Uma abordagem adequada e uma melhor compreensão da doença tiveram início apenas com os trabalhos de Charcot e da escola do Salpêtrière, inspirada por ele. Até essa época, a histeria tinha sido a bête noire da medicina. As pobres histéricas, que em séculos anteriores tinham sido lançadas à fogueira ou exorcizadas, em épocas recentes e esclarecidas, estavam sujeitas à maldição do ridículo; seu estado era tido como indigno de observação clínica, como se fosse simulação e exagero [...] Na Idade Média, a descoberta de áreas anestésicas e não-hemorrágicas era considerada prova de feitiçaria (FREUD, 1953, p. 486). Inicialmente a histeria foi considerada uma doença associada ao aparelho sexual feminino (útero, hystéra, em grego), com sintomas como os apresentados por mulheres consideradas bruxas, na Idade Média, que eram levadas ao exorcismo e à fogueira. O arquétipo matriarcal (chamarei de feminino) é o arquétipo referente ao poder da mulher, da sensualidade, da espontaneidade, da leveza, da fluidez, do lúdico, de tudo aquilo que nos remete ao universo feminino. Quando a manifestação desse arquétipo acontece, os conteúdos psíquicos emergem de uma forma saudável, demonstrando conexão com o prazer, com a leveza da vida, com a sabedoria, com a intuição,